CORPO que QUEIMA CORPO que NASCE

- carne que queima, queima o corpo, o sangue borbulha, tudo nefasto e rápido e tudo fica quieto em frangalhos. Corre o dia as horas rápidas e eu sobro em cinzas.. -como sobrar algo de quase nada...? Mas ainda sobro em cinzas. -mesmo assim ainda queima, arde em fogo bélico,nada sobra,cinzas sobrarão! O caminho some, só hà o caminho que leva ao nada, a lugar nenhum.Este permanece lá...à espera... -Cachorros que passam e farejam e ainda procuram por sobras de vida. ...às cegas, nada é encontrado mais, nem dentro ou fora.Só cinzas! lobos ainda sentem o cheiro do corpo queimado, ardente e gozado em notas de dor! Repelem-se os corpos em fogo ardente, gritos de horror e dores incríveis! Saltam chamas em formas, e disformes. Golpeiam os males do passado como espadas de samurais. facas pontiagudas, já muito usadas, muito limadas, agora com serventia previamente sabida.(serão usadas?), ou nem serão necessárias? Crianças que nascem de dia,de tarde à noite,pela madrugada. pessoas que esquecem de anunciar a dor,apavoram de repente, ferem e queimam,e sorriem e riem. Gargalhadas se ouvem ao longe...vindas de todos enfim! Fantasmas da tarde, agindo à meses...de repente, revoltantes e revoltados, correm pela chuva torrencial,fuçam e mexem, remexem e descobrem o sofrido. Tudo desvendado quase contado, sem mais mistérios. carne que arde, queima e cheira e vira um ranço enorme em breu ainda rosa e morno. Os colos os peitos, as coxas, os braços que embalam agora.Já são outros e de outros,amamentam com douçura e sem mais nenhuma sexualidade. Vida que surge das cinzas de outros. O mundo revirado e destorcido por multiplos espelhos devendando tudo,atrapalhando tudo, embaralhando tudo: solucionando. ...quarto em desordem,cozinha imunda...banheiros sufocantemente mal cheirosos. Casa,morada,alma,sombria,machucada,intolerável dor. Mentiras acabadas: corpo que nasce, corpo que queima, tudo ao mesmo tempo em dois lugares distintos. O amanhecer, o entardecer,e fica o escurecer... prá sempre, cinza, cinza, e em cinzas mortais e perpétuas! E cai a noite, como o cego via e ainda vê! Nasce o dia seguinte, com felicidade, e dor. E eu resto em cinzas, sem pudor! Sobraram cinzas...ainda quentes.

Ana Acquesta

Ana Acquesta
Ana Acquesta