Ditadura Obscura

Querem todos que se viva em perfeita escuridão. Ou em névoas de penumbras. Acham todos que a visão deve falhar, faltar. Assim como a mente deve permanecer insonsa. Corroída como em doença grave. Manter o corpo inerte, mas saudável. Dissimular. Permanecer quieta e inteligente. Ignorar da perícia: os resultados. Das revelações da vida como se alguém sobrasse em seus ouvidos: Não reconhecer os atos óbvios. Ocultar de si mesmo os sentimentos revelados. Abstrair, desprezar o mais puro dos sentidos. Debandar da própria realidade embaraçada. Querem todos que nada os aborreçam. Que as bocas se mantenham unidas apertadamente. Que os lábios escancarem em sorrisos largos: Meigos, sinceros, e surdos. Querem todos o fingimento explícito: Daqueles que engana à todos. Querem viver na neblina densa e cinza: Em dia claro e ensolarado. Querem suportar o destino cruel, Sem queixas, sem zangas, sem reclamações. Sem ao menos mágoas. Querem desprezar o presente, Especulando futuro incerto. Querem que acreditemos em lorotas e mentiras baratas. Conscientes da realidade exclamativa. Querem que sequemos ao relento, Queimemos no fogo do não ser, Do não saber, do não sei, E nada mais... Desde que permaneçamos quietos e não incomodemos, Deste modo podemos ficar, e usufruir o tempo que nos resta!

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Ana Acquesta

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