Ditadura Obscura
Querem todos que se viva em perfeita escuridão.
Ou em névoas de penumbras.
Acham todos que a visão deve falhar, faltar.
Assim como a mente deve permanecer insonsa.
Corroída como em doença grave.
Manter o corpo inerte, mas saudável.
Dissimular.
Permanecer quieta e inteligente.
Ignorar da perícia: os resultados.
Das revelações da vida como se alguém sobrasse em seus ouvidos:
Não reconhecer os atos óbvios.
Ocultar de si mesmo os sentimentos revelados.
Abstrair, desprezar o mais puro dos sentidos.
Debandar da própria realidade embaraçada.
Querem todos que nada os aborreçam.
Que as bocas se mantenham unidas apertadamente.
Que os lábios escancarem em sorrisos largos:
Meigos, sinceros, e surdos.
Querem todos o fingimento explícito:
Daqueles que engana à todos.
Querem viver na neblina densa e cinza:
Em dia claro e ensolarado.
Querem suportar o destino cruel,
Sem queixas, sem zangas, sem reclamações.
Sem ao menos mágoas.
Querem desprezar o presente,
Especulando futuro incerto.
Querem que acreditemos em lorotas e mentiras baratas.
Conscientes da realidade exclamativa.
Querem que sequemos ao relento,
Queimemos no fogo do não ser,
Do não saber, do não sei,
E nada mais...
Desde que permaneçamos quietos e não incomodemos,
Deste modo podemos ficar, e usufruir o tempo que nos resta!
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